segunda-feira, 12 de agosto de 2019

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Orientação para Elaborar uma Dissertação
É uma modalidade de composição que visa analisar, ou comentar expositivamente conceitos ou ideias sobre um determinado assunto. Pode apresentar-se de forma expositiva ou argumentativa. Possui uma natureza reflexiva que consiste na ordenação dessas ideias a respeito de um determinado assunto contido em um uma frase-tema, um conjunto de textos verbais, não verbais, ou até mesmo uma mescla de textos.
Seu texto deve apresentar tese, desenvolvimento (exposição/argumentação) e conclusão.
Não se inclua na redação, não cite fatos de sua vida particular, nem utilize o ainda na 1ª pessoa do plural.
Seu texto pode ser expositivo ou argumentativo (ou ainda expositivo e argumentativo). As ideias-núcleo devem ser bem desenvolvidas, bem fundamentadas.
Redija na 1ª pessoa do singular ou do plural, ou fundamentadas. Evite que seu texto expositivo ou argumentativo seja urna sequência de afirmações vagas, sem justificativa, evidências ou exemplificação..
Atente para as expressões vagas ou significado amplo e sua adequada contextualização. Ex.: conceitos como “certo”, “errado”, “democracia”, “justiça”, “liberdade”, “felicidade” etc.
Evite expressões como “belo”, “bom”, “mau”, “incrível”, “péssimo”, “triste”,“pobre”, “rico” etc.; são juízos de valor sem carga informativa, imprecisos e
subjetivos.
Fuja do lugar-comum, frases feitas e expressões cristalizadas: “a pureza das crianças”, “a sabedoria dos velhos”. A palavra “coisa”, gírias e vícios da linguagem oral devem ser evitados, bem como o uso de “etc.” e as abreviações.
Não se usam entre aspas palavras estrangeiras com correspondência na língua portuguesa: hippie, status, dark, punk, laser, chips etc.
Não construa frases embromatórias. Verifique se as palavras empregadas são fundamentais e informativas.
Observe se não há repetição de ideias, falta de clareza, construções sem nexo (conjunções mal empregadas), falta de concatenação de ideias nas frases e nos parágrafos entre si, divagação ou fuga ao tema proposto.
Caso você tenha feito uma pergunta na tese ou no corpo do texto, verifique se a argumentação responde à pergunta. Se você eventualmente encerrar o texto com uma interrogação, esta pode estar corretamente empregada desde que a argumentação responda à questão. Se o texto for vago, a interrogação será retórica e vazia.
Verifique se os argumentos são convincentes: fatos notórios ou históricos, conhecimentos geográficos, cifras aproximadas, pesquisas e informações adquiridas através de leituras e fontes culturais diversas.
Se considerarmos que a redação apresenta entre 20 e 30 linhas, cada parágrafo pode ser desenvolvido entre 3 e 6 linhas. Você deve ser flexível nesse número, em razão do tamanho da letra ou da continuidade de raciocínio elaborado. Observe no seu texto os parágrafos prolixos ou muito curtos, bem corno os períodos muito fragmentados, que resultam numa construção primária.
Seguem  modelo
TEMA: “DENÚNCIAS, ESCÂNDALOS, CASOS ILÍCITOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE... ISSO É O QUE OCORRE NO BRASIL HOJE.”
Uma nova ordem
Nunca foi tão importante no País uma cruzada pela moralidade. As denúncias que se sucedem, os escândalos que se multiplicam, os casos ilícitos que ocorrem em diversos níveis da administração pública exibem, de forma veemente, a profunda crise moral por que passa o País.
O povo se afasta cada vez mais dos políticos, como se estes fossem símbolos de todos os males. As instituições normativas, que fundamentam o sistema democrático, caem em descrédito. Os governantes, eleitos pela expressão do voto, também engrossam a caldeira da descrença e, frágeis, acabam comprometendo seus programas de gestão.
Para complicar, ainda estamos no meio de uma recessão que tem jogado milhares de trabalhadores na rua, ampliando os bolsões de insatisfação e amargura.
Não é de estranhar que parcelas imensas do eleitorado, em protesto contra o que vêem e sentem, procurem manifestar sua posição com o voto nulo, a abstenção ou o voto em branco. Convenhamos, nenhuma democracia floresce dessa maneira.
A atitude de inércia e apatia dos homens que têm responsabilidade pública os condenará ao castigo da história. É possível fazer-se algo, de imediato, que possa acender uma pequena chama de esperança.
O Brasil dos grandes valores, das grandes ideias, da fé e da crença, da esperança e do futuro necessita, urgentemente da ação solidária, tanto das autoridades quanto do cidadão comum, para instaurar uma nova ordem na ética e na moral.
Carlos Apolinário, adaptado.
Comentário:
O primeiro parágrafo constitui a introdução do texto (tese).
Os parágrafos segundo, terceiro e quarto constituem
o desenvolvimento (argumentação — exemplificação com análise e crítica).
O último parágrafo é a
conclusão (perspectiva de solução).


A Estrutura do texto Dissertativo

São três as partes básicas de uma redação: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Isso necessariamente não quer dizer que uma dissertação tenha que ter três parágrafos. O mínimo de parágrafos lógicos seriam quatro e no máximo cinco, por se tratar de um texto para leitura rápida e concisa.
Na Introdução de texto dissertativo encontramos a delimitação de um tema, através de frases chamadas de argumentos, ou ideias secundárias, de uma ideia central que conhecemos como assunto, o assunto do tema que amarrará os parágrafos do desenvolvimento - sugestão ou duas, ou no máximo três;
No Desenvolvimento do texto dissertativo trabalharemos as frases ideias, ou argumentos observando a estrutura padrão de um parágrafo de desenvolvimento que apresentarei mais adiante, apresentando sua causa e consequência e exemplos sempre no fim parágrafo para mostrar harmonia;
A Conclusão no texto dissertativo também uma estrutura padrão, chega de inventar, até para finalizar um texto devemos seguir regras. Seguindo-as o resultado final da redação será primoroso.
Eis o Esquema Estrutural que poderá ajudá-lo a fazer sua dissertação:

 FONTE: DIVERSAS
Valerio Medeiros (mestrando em Teoria Literária)

Para Denilson Vasconcelos
(in memoriam)

Origem do vocábulo grotesco

            O grotesco sempre esteve presente na História da Literatura e das Artes, antes mesmo de ser conceituado, ou nomeado. Pensemos no teatro grego e vários exemplos deste elemento estético virão à tona. Não faltam acontecimentos e figuras grotescas na Mitologia grega, em que formas disformes e monstruosas protagonizam episódios que representam, de maneira alegórica, a condição humana.
            Acontece, porém, que o conceito de grotesco vai além da mera identificação do disforme e do monstruoso. O termo – surgido no século XVI, quando se descobriram, através de escavações, pinturas ornamentais em regiões da Itália – vem do italiano La Grottesca ou Grottesco, derivados de grotta (gruta). Primeiramente usada para designar aquele tipo de arte ornamental, a palavra grotesco ganharia definições mais amplas à medida que teóricos e filósofos detectavam, na literatura, aspectos ligados àquelas representações plásticas.
            Na pintura, costumava-se denominar de grotesca a obra que apresentasse arabescos, geralmente constituídos de ramos de plantas, de onde brotavam figuras humanas ou animalescas. Esse hibridismo acabou por caracterizar um estranhamento até então desconhecido, pelo menos de maneira mais consciente, no universo das artes.
            Montaigne é, talvez, o primeiro a transportar o conceito de grotesco da pintura para as letras:
            “A aplicação que Montaigne faz do vocábulo surpreende porque começa a trasladar a palavra, ou seja, a passá-la do domínio das artes plásticas ao da literatura. Para tanto, o pressuposto é que ele dê um caráter abstrato ao vocábulo, convertendo em conceito estilístico.”[1]
           
            Satã: deus grotesco

Será no Romantismo, entretanto, que o conceito de grotesco na literatura configurar-se-á de forma mais bem acabada. Victor Hugo desenvolve uma teoria do grotesco que iluminará os estudos do vocábulo a partir de então. Sabemos que o Romantismo instaura a modernidade nas artes, e, nessa esteira, Hugo aponta a presença inequívoca do grotesco:
            “No pensamento dos Modernos, o grotesco tem um papel imenso. Aí está por toda a parte; de um lado cria o disforme e o horrível; do outro, o cômico e o bufo. Põe em redor da religião mil superstições originais, ao redor da poesia, mil imaginações pitorescas. É ele que semeia, a mancheias, no ar, na água, na terra, no fogo, estas miríades de seres intermediários que encontramos bem vivos nas tradições populares da Idade Média; é ele que faz girar na sombra a ronda pavorosa do sabá, ele ainda que dá a Satã os cornos, os pés de bode, as asas de morcego.”[2]
            Baudelaire, grande ícone da modernidade, enriquece sua poesia de “mil imaginações pitorescas”, e terá em Satã uma devoção religiosa. Não é por outro motivo que Proust aponta que no poeta de As Flores do Mal “o cuidado de ensinar a mais profunda teologia está confiado a Satã”.[3]
            Lembremos, aqui, o poema “As Litanias de Satã”4:
Ó tu, o Anjo mais belo e o mais sábio Senhor,
Deus que a sorte traiu e privou de louvor,

Tem piedade, Satã, desta longa miséria!
Satã reunirá, para Baudelaire, o estranhamento primevo que as pinturas grotescas causaram ao homem quinhentista: o híbrido do humano com o animalesco. Vale lembrar que Satã, além de “disforme” e “horrível” na forma física, tem, como traços marcantes em sua personalidade “o cômico e o bufo”, chegando mesmo a escarnecer das desgraças. Com relação a este último aspecto, ressaltamos que o gênero tragicômico é uma legítima manifestação grotesca – no teatro e no romance –, dada a união híbrida e conflitante da tragédia com a comédia, do sublime com o grotesco.



Do grotesco e do sublime


            Para Hugo, o contraste entre o sublime e o grotesco é o que dá à literatura o seu élan:
            “(...) como objetivo junto do sublime, como meio de contraste, o grotesco é, segundo nossa opinião, a mais rica fonte que a natureza pode abrir à arte.”5
            Ao que se acrescenta:
            “O sublime sobre o sublime dificilmente produz um contraste, e tem-se necessidade de descansar de tudo, até do belo. Parece, ao contrário, que o grotesco é um tempo de parada, um termo de comparação, um ponto de partida, de onde nos elevamos para o belo com uma percepção mais fresca e mais excitada.”6
            Não será por outro motivo que, para Baudelaire, Satã é “o tipo mais perfeito de Beleza viril”.7 Tal declaração nos mostra que o poeta filiava-se à teoria do autor de Os Miseráveis.
            A obra de Baudelaire está repleta de elementos do grotesco, não fosse ele um dos principais representantes do Romantismo, ainda que crepuscular. Para ele, “a mistura do grotesco e do trágico é agradável ao espírito, como as discordâncias aos ouvidos enervados”.8
            Folheando As Flores do Mal, encontramos diversos exemplos dessa mistura. Em “O Esqueleto Lavrador”, lemos ecos do horror típico de Edgar Allan Poe, que também lançou mão do grotesco em sua obra:

     Vê-se, o que torna mais completos

                                               Estes misteriosos Horrores,
                                               Cavando como lavradores
                                               A multidão de esqueletos.
            Notamos que, em Baudelaire, o grotesco se manifesta de maneira mais contundente quando ligado ao tema da morte ou estados mórbidos. Se não, vejamos uma estrofe de “A Uma Mendiga Ruiva”:
A mim, poeta sofredor,
Teu corpo de um mal sem cura,

Todo manchas de rubor,
Só tem doçura.
            Sabemos que a morte é um dos principais assuntos da obra baudelairiana, reservando, n’As Flores do Mal, uma sessão de poemas sob o título “A Morte”. O Romantismo, com sua sensibilidade à flor da pele, tenderá a enxergar a vida sob o estigma da finitude. Ante à única certeza do homem – a de que vai morrer –, o poeta romântico, ávido de Beleza, incorporará à sua estética – que, vale lembrar, pregava a união permanente de vida e arte – a apreciação da morte, extraindo, também dela, o Belo. Por este motivo, Paul Valéry chamou a atenção para o fato de que “os românticos reagiram mais contra o século XVIII que contra o XVII”9, donde se percebe que o Barroco, com sua obsessão pela morte e a finitude da vida, ainda exercia sobre o homem do século XIX grande influência.
            O Barroco lega ao Romantismo o interesse pelo ornamento plástico e lingüístico. As artes plásticas barrocas, repletas de motivos grotescos, ecoam nestas sentenças de Baudelaire:
            “O desenho arabesco é o mais espiritualista dos desenhos.”
            “O desenho arabesco é o mais ideal de todos.”10
            Erich Auerbach observou que Baudelaire incorporou o aspecto grotesco da realidade à linguagem sublimada do Romantismo. Daí, encontrarmos n’As Flores do Mal uma linguagem extremamente poética, numa incessante busca do Belo, onde o grotesco assume um papel importante no efeito do contraste com o sublime.
           

O grotesco na modernidade de Baudelaire


Dissemos, anteriormente, que o grotesco sempre existiu nas Artes, ainda que de modo inconsciente. É de se notar, no entanto, que o grotesco, a partir do Romantismo, assume uma intencionalidade marcante. Sua aplicação na poesia está estreitamente ligada a uma nova visão e maneira artística, a que chamamos Modernidade. O moderno, com seus conceitos de ruína e fragmento, detectará também o aspecto disforme que se configura nesse novo espírito de época. Baudelaire, flâneur da Paris modernizada, é o observador das diversidades humanas que tomam as ruas da Cidade-Luz, onde o mendigo passa a dividir o mesmo espaço urbano que a senhora burguesa sofisticada.
Nessa nova ordem social, o olhar aguçado e crítico do poeta detecta algo além do que o simples prazer voyeurista do flâneur, pois “os seres perdem o seu aspecto familiar, há uma completa subversão da ordem ontológica. A desproporção no miúdo sugere uma desarmonia universal”.11
Aqui, vale lembrar Wolfgang Kayser:
“Na palavra grottesco, como designação de uma determinada arte ornamental, estimulada pela Antigüidade, havia para a Renascença não apenas algo lúdico e alegre, leve e fantasioso, mas, concomitantemente, algo angustiante e sinistro em face de um mundo em que as ordenações de nossa realidade estavam suspensas (...).”12
Como vemos, a identificação do grotesco no mundo moderno configura, em Baudelaire, uma chave importante para certos poemas seus. Em “O Vinho dos Trapeiros”, notamos a cidade e seus moribundos sob o crivo desse olhar:
Estes, que a vida em casa enche de desenganos,
Roídos pelo trabalho e as tormentas dos anos,
Derreados sob montões de detritos hostis,
Confuso material que vomita Paris.
            O conceito de grotesco, na modernidade, acentua bastante esse sentimento de “desarmonia universal”, essa suspensão das ordenações da realidade. O monstruoso, o disforme, para Baudelaire, é, sobretudo, a massa urbana em movimento nas ruas, provocando no poeta um misto de Beleza e feiúra, de encanto e náusea. Sabemos do fascínio de Baudelaire pela vida moderna e conhecemos, também, seu desprezo por ela.
            Baudelaire comumente trará, para o seu universo poético, esse encontro do Belo com o grotesco, o que constituirá um elemento fundamental de sua obra.  Victor Hugo reflete sobre essa relação do sublime com o grotesco apontando aspectos que se reconhecem sobremaneira na poética baudelairiana:
            “(...) na nova poesia, enquanto o sublime representará a alma tal qual ela é, purificada pela moral cristã, ele [o grotesco] representará o papel da besta humana. O primeiro tipo, livre de toda mescla impura, terá como apanágio todos os encantos, todas as raças, todas as belezas (...). O segundo tomará todos os ridículos, todas as enfermidades, todas as feiúras. Nesta partilha da humanidade e da criação, é a ele que caberão as paixões, os vícios, os crimes; é ele que será luxurioso, rastejante, guloso, avaro, pérfido, enredador, hipócrita.”13
            Impossível citarmos estas considerações de Hugo sem que este último adjetivo não nos remeta a Baudelaire, de maneira mais evocativa que todos os outros listados. O “leitor hipócrita”, formulado por Baudelaire, faz parte dessa nova poesia, em que o grotesco tem papel relevante. Leitor hipócrita e cúmplice, já que também é semelhante a esse poeta que canta o feio:

Tu conheces, leitor, o monstro delicado

- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!14
            Mas talvez o poema de As Flores do Mal que melhor representa o encontro do grotesco com o sublime seja “Uma Carniça”:
                                   Recorda-te do objeto que vimos, ó Graça,
                                               Por belo estio matinal,

                                   Na curva do caminho uma infame carcaça

                                               Num leito que era um carrascal!

                                   Suas pernas para o ar, tal mulher luxuriosa,
                                               Suando venenos e clarões,
                                   Abriam de feição cínica e preguiçosa
                                               O ventre todo exalações.

                                   Resplandecia o sol sobre esta cousa impura
                                               Por ver se a cozia bem
                                   E ao cêntuplo volvia à grandiosa natura
                                   O que ela em si sempre contém;

                        E o  céu olhava do alto a carniça que assombra
                                   Como uma flor desabrochar.
                        A fedentina era tão forte e sobre a alfombra
                                   Creste que fosses desmaiar.

                        Moscas vinham zumbir sobre este ventre pútrido
                                   Donde saíam batalhões
                        Negros de larvas a escorrer – espesso líquido
                                   Ao largo dos vivos rasgões.

E tudo isto descia e subia, qual vaga,
                                   Ou se atirava, cintilando;
                        E dir-se-ia que o corpo, inflado de aura vaga,
                                   Vivia se multiplicando.

                        E este universo dava a mais estranha música,
                                   Água a correr, brisa ligeira,
                        Ou grão que o joeirador com movimento rítmico
                                   Vai agitando em sua joeira.

                        Apagava-se a forma e era coisa sonhada,
                                   Um esboço lento a chegar,
                        E que o artista completa na tela olvidada
                                   Somente por se recordar.

                        Uma cadela atrás do rochedo tão preto
                                   Nos olhava de olhar irado
                        Para logo depois apanhar do esqueleto
                                   O naco que havia deixado.

- E no entanto serás igual a esta torpeza,
Igual a esta hórrida infecção,
                                   Tu, sol de meu olhar e minha natureza,
                                               Tu, meu anjo e minha paixão.

                                   Isso mesmo serás, rainha das graciosas,
                                               Aos derradeiros sacramentos
                                   Quando fores sob a erva e as florações carnosas
                                               Mofar só entre os ossamentos.

                                   Minha beleza, então dirás à bicharia,
                                               Que há de roer-te o coração,
                                   Que eu a forma guardei e a essência de harmonia
                                               Do amor em decomposição.
            Neste poema, que nos lembra o nosso Augusto dos Anjos, ávido leitor de Baudelaire, lemos o tema da morte abordado de maneira extremamente mórbida, com expressivo acento de imagens grotescas. No início, entramos em contato com dois extremos: a feiúra do cadáver em decomposição e a beleza da amada, para, ao final, vir a conclusão de que a bela mulher um dia será igual à carniça. Por essa aproximação pouco afeita a uma poesia lírica, notamos um estranhamento, algo incômodo, que nos joga sem meias palavras na constatação inequívoca da finitude da vida – e da Beleza. Para Baudelaire, “o que há de fascinante no mau gosto é o prazer aristocrático de desagradar”.15 Afora tal declaração vir carregada de provocação – e, sem dúvida, Baudelaire era um provocador –, ela também denuncia uma consciência do recurso do grotesco na arte moderna. Ora, sabemos que a arte moderna não se preocupa em agradar, à maneira do estilo clássico, mas em revelar a complexidade desse admirável mundo novo.
            É interessante a maneira como, neste poema, se revela uma certa misoginia, algo presente na obra baudelairiana:
Suas pernas para o ar, tal mulher luxuriosa,
                                               Suando venenos e clarões,
                                               Abriam de feição cínica e preguiçosa
                                               O ventre todo exalações.
            Pela grotesca, caricata, comparação da carniça com a mulher luxuriosa, podemos dizer que o cadáver em decomposição assume “feição cínica e preguiçosa” porque o cinismo e a preguiça são dois atributos típicos das mulheres, na visão do poeta.
Falamos em caricatura. Ressaltamos que a caricatura é uma das mais utilizadas formas de expressão do grotesco, algo que se acentua, sobretudo, no século XIX, devido a sua profícua publicação em jornais. Proust chega mesmo a dizer que As Flores da Mal são um “livro sublime mas caricato, onde a piedade faz escárnio, onde o deboche faz o sinal da cruz”. 16 “Uma carniça” não é um poema desprovido de humor negro, acreditamos, assim como “Dança Macabra”, em que um esqueleto feminino se prepara para ir a uma festa,  também não o é.
            O contínuo contraste entre o sublime e o grotesco se dá ao longo do poema, donde podemos extrair algumas passagens que mais nos chamam a atenção. Notamos que a terrível visão se dá num “belo estio matinal” e que “resplandecia o sol sobre esta cousa impura”. Ou ainda que a carniça desabrochava como uma flor. Pode-se ouvir uma música que é estranha, mas não deixa de ser música.
            As três últimas estrofes se concentram na constatação – e por que não dizer ensinamento, já que o eu lírico se dirige à amada – de que também a beleza humana, feminina, será corrompida pela lei implacável da Natureza:

- E no entanto serás igual a esta torpeza,
Igual a esta hórrida infecção
            A morbidez, companheira inseparável do grotesco, ganha, em Baudelaire, status lírico. Como bom romântico, ainda que ultrapassasse o rótulo, Baudelaire cultivou e cultuou a morte. Dona de um leque extenso de metáforas, a Morte, aqui, também pode ser vista como o óbito de um tempo que não cabe mais na poesia. O autor de As Flores do Mal propunha uma nova maneira de se ver o mundo e um novo conceito de arte em tempos de Modernidade, que trazia o progresso e o tédio, e que tanto faria ainda sentido para os decadentistas do fim do século XIX. Essa nova poesia destituía o poeta de uma suposta condição de ser privilegiado e divino, portador da auréola, jogando-o no calor das ruas e das multidões:
            “Agora posso passear incógnito, praticar ações vis, e entregar-me à crápula, como os simples mortais. E aqui estou, igualzinho a você, como está vendo!”17












Bibliografia

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Trad. Jamil Almansur Haddad. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
____________________ .  As flores do mal. Trad. Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
____________________. Meu coração desnudado. Trad. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
____________________. Pequenos poemas em prosa. Trad. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 3 ed., 1976.
HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime. Prefácio de Cromwell. Trad. Célia Berrettini. São Paulo: Perspectiva, 2 ed., 2002.
KAYSER, Wolfgang. O grotesco. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1986.
LINS, Vera. Crítica e utopia nos escritos de Gonzaga Duque: uma terceira margem do moderno. Publicado em Qfwfq/Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Vol. 2,
          n. 1, 1996. Rio de Janeiro: UERJ, 1996, pp. 78-88.
PROUST, Marcel. A propósito de Baudelaire. in: Nas trilhas da crítica. Trad. Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Edusp, 1994.
ROSENFELD, Anatol. A visão grotesca. in: Texto/contexto. São Paulo: Perspectiva, 1976.
VALÉRY, Paul. Situação de Baudelaire. in: Variedades. Trad. Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras, 1991.










RESUMO


O ensaio procura identificar, a partir da obra poética e de algumas reflexões estéticas de Charles Baudelaire (1821-1867), ocorrências do grotesco, recurso estilístico de grande força imagética que revela um olhar moderno sobre o mundo e o próprio fazer poético.

PALAVRAS-CHAVE

Grotesco

Baudelaire
Modernidade




[1] KAYSER, Wolfgang. O Grotesco. p. 24
[2] HUGO, Victor. Do Grotesco e do Sublime. p.p. 30-31
[3] PROUST, Marcel. A propósito de Baudelaire. p. 103
4 As citações de poemas de As Flores do Mal se baseiam na tradução de Jamil Almansur Haddad.
5 HUGO, Victor. Obra citada. p. 33
6 HUGO, Victor. Obra citada. p. 33
7 BAUDELAIRE, Charles. Meu Coração Desnudado. p. 32
8 BAUDELAIRE, Charles. Idem. p. 37.

9 VALÉRY, Paul. Situação de Baudelaire. p. 26

10 BAUDELAIRE, Charles. Ibidem. p.p. 19-20
11 ROSENFELD, Anatol. A visão grotesca. p. 62
12 KAYSER, Wolfgang. Obra citada. p. 20

13 HUGO, Victor. Obra citada. p. p. 35-36

14 Usamos aqui a tradução de Ivan Junqueira.
15 BAUDELAIRE, Charles. Meu Coração Desnudado. p. 37.

16 PROUST, Marcel. Obra citada. p. 103
17 BAUDELAIRE, Charles. Pequenos Poemas em Prosa. p 112








AULA – 29.08.17 – Arte, cultura e Educação – Prof. Rosy Barberi


Formas da de arte: PCNs - No PCN de Arte, o professor deve capacitar seus alunos para que possam dominar com mais propriedade as linguagens da Arte.
Artesanato;( A história do artesanato tem início no mundo com a própria história do homem)*(VER NA SITE,  ). http://www.programaartebrasil.com.br/hist_artesanato/hist_arte.asp ( Os primeiros artesãos surgiram no período neolítico (6.000 a.C +ou-) quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica e a tecer fibras animais e vegetais.)( Esculturas e artefatos manuais)
Pinturas;(desde as rupestres até o homem desaparecer do planeta…)
Dança;( Isadora Dunkan, as danças tribais (índios), as danças Folclóricas- Boi Bumba, quadrilhas etc..) Comunicação cultural de cada povo, cada tempo, etc.
Teatro; teatro teve sua origem no século VI a.C., na Grécia, surgindo das festas dionisíacas realizadas em homenagem ao deus Dionísio, deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Essas festas, que eram rituais sagrados, procissões e recitais que duravam dias seguidos, aconteciam uma vez por ano na primavera, períodos em que se fazia a colheita do vinho naquela região -HISTORIA OCIDENTE- A maior parte das histórias se baseiam em mitos ou relatos antigos e seu objetivo principal é mostrar o caráter dos personagens, o papel da humanidade no mundo e as conseqüências das ações individuais.(INDIVIDUALISMOxGRUPO) Em grupo somos fortes, mas, é muito mais difícil!!(Completudo)
Música; Podemos dizer que a “Música” é a arte de combinar os sons e o silêncio. (Foram os filósofos gregos que criaram a teoria mais elaborada para a linguagem musical na Antiguidade. Pitágoras acreditava que a música e a matemática formavam a chave para os segredos do mundo, que o universo cantava, justificando a importância da música na dança, na tragédia e nos cultos gregos) Exemplo canção de Asa Branca-
Arquitetura= As primeiras grandes obras de arquitetura remontam à Antiguidade, mas é possível traçar as origens do pensamento arquitetônico em períodos pré-históricos, quando foram erigidas as primeiras construções humanas.
*(Literatura: A literatura (do latim littera, que significa “letra”) é uma das manifestações artísticas do ser humano, ao lado da música, dança, teatro, escultura, arquitetura, dentre outras. Ela representa comunicação, linguagem e criatividade, sendo considerada a arte das palavras. (PÓS AULA))
*ESCULTURA: Considerada a terceira das artes clássicas, a escultura é a técnica de representar objetos e seres através da reprodução de formas. Utiliza-se de materiais como gesso, pedra, madeira, resinas sintéticas, aço, ferro, mármore e das seguintes técnicas: cinzelação, fundição, moldagem ou a aglomeração de partículas. Sua origem baseia-se na imitação da natureza, com o intuito maior de representar o corpo humano.
(*COMPLEMENTAÇAO EM FUNÇAO DA COLABORAÇAO DAS MENINAS.)

Expressar é um verbo que corresponde a ação de expor alguma coisa, seja por meio de palavras ou atitudes.
Expressar é declarar alguma coisa, dar a opinião ou transmitir o que se pensa sobre algo. Como na frase: "ele perdeu o medo e conseguiu expressar sua opinião sobre a situação"
Quando fala-se, em expressar através de uma ação, e não com palavras, podemos entender este sentido de representar, como no exemplo: "as obras do artista conseguiam expressar a sua raiva em relação ao momento que vivia".
Quando alguém fala em "expressar sentimentos" significa revelar seus sentimentos, o que pensa e como se sente em relação a outra pessoa ou coisa. Geralmente é associado à declarar amor a outra pessoa, como ao dizer "eu te amo". (Até para falar do que não gostamos é muito importante, saber, aprender fazê-lo)
Uma pessoa que não expressa seus sentimentos, adequadamente, refletidamente é tida como alguém frio, “sem educação”, histérico, histérica e, ou que não se envolve e guarda para si as coisas que sente. É considerado alguém difícil de lidar e conviver, pois não sabe, muitas vezes, definir o que sente a respeito de determinadas coisas ou ações. Expressar-se é uma forma de manter uma convivência saudável com os amigos, família, com o mundo e consigo mesmo.O HISTÓRA DA BORBOLETA DE UMA ASA SO contrário de expressar, ou seja o antônimo do verbo, é esconder, calar ou silenciar
Segundo os PCns a arte é Fruição.
O que é fruição: Fruição é a ação de fruir, ou seja, de aproveitar ou usufruir de alguma coisa, situação, oportunidade e etc.
O verbo fruir está relacionado com o ato de desfrutar ou ter prazer com algo.
Exemplo: “Ela soube fruir todos os melhores momentos de sua vida” (“Ela soube aproveitar todos os melhores momentos de sua vida”)

POEMA
''O artesanato não quer durar milênios nem está possuído da pressa de morrer prontamente. Transcorre com os dias, flui conosco, se gasta pouco a pouco, não busca a morte ou tampouco a nega, apenas aceita esse destino. Entre o tempo sem tempo do museu e o tempo acelerado da tecnologia, o artesanato tem o ritmo do tempo humano. É um objeto útil que também é belo; um objeto que dura, mas que um dia, porém se acaba e resigna-se a isto; um objeto que não é único como uma obra de arte e pode ser substituído por outro objeto parecido, mas não idêntico. O artesanato nos ensina a morrer, e fazendo isto, nos ensina a viver".
Poema feito DE: Mila Viegas

“A borboleta de uma asa só”

OFICINA – FAÇA SUA BORBOLETA “ ANDAR E EM GRUPO É MAIS fácil.”